A Importância da Ultrassonografia Mamária e o Outubro Rosa

Simone Elias

Mastologista
Pós-doutorado em Radiologia Clínica

Durante o Outubro Rosa, o papel dos profissionais de saúde no rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de mama é ainda mais destacado. O ultrassonografista, em especial, tem uma função essencial nesse contexto. Embora a mamografia seja o exame de escolha para o rastreamento do câncer de mama, a ultrassonografia mamária desempenha um papel crucial, principalmente em mulheres com mamas densas, onde a mamografia tem limitações. A qualidade do exame de ultrassonografia, portanto, é vital para garantir diagnósticos precisos e reduzir falsos negativos.

Mamas densas, presentes em cerca de 40% das mulheres, podem dificultar a detecção de lesões na mamografia, pois tanto o tecido glandular quanto possíveis nódulos aparecem com a mesma densidade, levando a possíveis sobreposições. A ultrassonografia mamária, por sua vez, oferece uma avaliação adicional, com a capacidade de diferenciar nódulos sólidos de cistos, diferencias lesões benignas de lesões suspeitas, identificar lesões menores e avaliar regiões que podem ser de difícil visualização na mamografia. Deste modo, o exame complementar de ultrassonografia é fundamental para melhorar a acurácia diagnóstica em mamas densas, sendo especialmente relevante em pacientes mais jovens, em que a densidade mamária é mais prevalente.

No entanto, para que essa ferramenta seja eficaz, a qualidade do exame precisa ser assegurada. Isso começa com a capacitação técnica do ultrassonografista. A habilidade de realizar varreduras sistemáticas e interpretar adequadamente os achados pode determinar o sucesso do exame. Ainda, é fundamental o uso de equipamentos de alta resolução, que permitem a visualização detalhada das estruturas mamárias. A resolução espacial e de contraste da ultrassonografia impacta diretamente na identificação de pequenos nódulos, microcalcificações (associadas a outras lesões tornando-as identificáveis) e na diferenciação entre tecidos normais e patológicos.

Outro ponto crucial é a padronização do laudo. A adoção de uma linguagem uniforme e a utilização da classificação BI-RADS no relato ultrassonográfico são essenciais para facilitar a comunicação entre os diferentes especialistas envolvidos no cuidado da paciente. Um laudo claro, preciso e padronizado reduz a variabilidade de interpretação e auxilia na decisão terapêutica adequada.

Além do diagnóstico, a ultrassonografia tem um papel indispensável na jornada diagnóstica, por meio dos procedimentos intervencionistas. Sob a orientação do ultrassom, procedimentos como punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e biópsia com agulha grossa (core biópsia) são realizados com alta precisão, aumentando a chance de obter amostras representativas da lesão. Isso é particularmente importante em casos de lesões suspeitas em mamas densas ou quando há necessidade de investigação de alterações visualizadas na mamografia.

Neste mês de conscientização, é importante que os médicos ultrassonografistas reforcem seu compromisso com a excelência no rastreamento e diagnóstico do câncer de mama. A detecção precoce salva vidas, e o exame de ultrassonografia de qualidade, quando bem indicado e realizado com precisão, pode fazer a diferença no desfecho para muitas mulheres.

Em conclusão, a ultrassonografia mamária, quando utilizada em conjunto com a mamografia e realizada por profissionais capacitados, tem um impacto significativo no diagnóstico precoce do câncer de mama. É um exame complementar indispensável, especialmente para mulheres com mamas densas, e sua correta execução pode levar a um manejo mais eficaz e seguro das lesões mamárias.

Durante o Outubro Rosa, essa mensagem ganha ainda mais relevância, lembrando a todos os profissionais da saúde a importância da qualidade em cada etapa da jornada diagnóstica.